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Informativo

Bruna Rodrigues e Humberto Fauller, ganhadores do prêmio Blue Sky Young Researchers and Innovation Award 2020-2021, concedem entrevista exclusiva a Comunicação do DEF

Em entrevista com a Comunicação do DEF, Bruna Virginia Rodrigues e Humberto Fauller, ganhadores do 2º e 3º lugar do Prêmio Blue Sky Young Researchers and Innovation Award 2020-2021, respectivamente, contaram um pouco sobre seus projetos e sobre a trajetória até conquistar o pódio.

O projeto “Uso dos gases combustos do queimador de gases da carbonização para secagem de madeira”, de Humberto Fauller, fruto de uma parceria da AcelorMittal com o Laboratório de Painéis e Energia da Madeira (LAPEM), orientado pela professora Angélica de Cassia Carneiro, teve início em 2017 e nasceu do desafio de aproveitar os gases da carbonização para a secagem da madeira dentro do forno, visto que para secá-la fora do forno é necessário alto investimento em infraestrutura e há diversas etapas que inviabilizam financeiramente o processo.

Humberto explicou que os gases produzidos durante a carbonização têm elevado potencial enérgico, uma vez que são gases de efeito estufa – como metano e monóxido – e gases poluentes – como óxidos, hidrocarbonetos e dióxido de carbono. Esses compostos de alto poder calorifico, quando submetidos ao queimador, são convertidos em CO2, passando a ser um gás absorvido pelas plantas.

Com a queima desses gases, foram atingidas temperaturas de até 800ºC, sendo necessário resfria-lo para chegar ao forno de secagem na temperatura ideal. Dessa forma, adaptaram o sistema forno-fornalha, através da instalação de uma tubulação metálica que, com o auxílio de um exaustor, retira os gases combustos da chaminé e direciona para o forno de secagem por meio de um duto de alvenaria em Y.

“Os resultados encontrados foram magníficos”, comentou o doutorando. Foram obtidos valores abaixo de 30% do teor de umidade para realizar a carbonização, resultado ótimo visto que o recomendado em Minas Gerais é de 40%. “Essa redução representa alto ganho de tempo no campo. Normalmente a madeira precisa ficar de 150 a 180 dias no campo, e com esses resultados pode ficar apenas 80 a 90 dias, reduzindo muito o tempo de espera”.

O projeto apresenta diversos benefícios. Humberto destacou entre eles, a melhora do ambiente, tanto para os trabalhadores quanto para os moradores da região, devido a transformação dos gases que inicialmente eram poluentes. Além disso, impacta positivamente a renda dos produtores, pois há o aumento do rendimento gravimétrico (alcançou valores acima de 38%), visto que aproveita uma energia que seria desperdiçada e os gases seriam liberados na atmosfera.

“O setor de produção de carvão tem baixa tecnologia empregada, mais de 60% da produção nacional é oriunda de pequenos e médios produtores, que muitas vezes não tem acesso à tecnologia. Esse sistema pode ser aplicado por eles, com melhor aproveitamento da madeira e benefícios econômicos. O projeto vem de encontro com a realidade da produção de carvão no Brasil e com o tema do prêmio”.

Já o projeto “Produção de pellets a partir do lodo gerado na indústria de celulose kraft utilizando um novo processo úmido”, desenvolvido por Bruna Rodrigues, usa o lodo, resíduo solido gerado durante o tratamento de efluentes na indústria de Celulose e Papel, e que costuma ser descartado em aterro, criando um gargalo de estabelecer novos usos. “O projeto tem o objetivo de transformar esse resíduo em matéria-prima para agregar valor e produzir comercialmente. Nesse caso estamos produzindo pellets, que pode ser queimado na própria caldeira de biomassa dentro da fábrica”, afirma Bruna.

Ela destaca que há dois tipos de lodo, o primário, proveniente de tratamento químico, e o secundário, de tratamento biológico. O lodo secundário, usado no projeto, tem umidade mais elevada, e para viabilizar sua transformação em combustível, a pelletização foi feita com alto teor de umidade, a fim de diminuir o gasto energético. “Ficamos muito surpresos com o resultado, porque os pellets apresentaram propriedades de resistência maiores que os usados comercialmente”. O pellet produzido reduz custos com transporte, aproveita matéria-prima e produz combustível que pode complementar a produção de uma caldeira já existente na fábrica, além de ter uma área de produção de baixo custo.

Bruna comenta que, caso a produção energética seja maior que o necessário, os pellets podem ser vendidos, sendo um combustível de alto valor agregado e com matéria-prima de custo de aquisição negativo. É um projeto interessante do ponto de vista econômico, social; visto que as áreas de aterro se tornam inutilizadas, e ambiental; diminuindo os passivos ambientais e aproveitando um material altamente poluente se mal descartado.

Quando indagados sobre o que os motivou a concorrer ao prêmio, Bruna comenta sobre o desejo de difundir o projeto e torna-lo conhecido. “Encontramos um paralelo muito grande entre a proposta do prêmio e o nosso projeto, que está justamente dentro desse contexto de economia circular, em que o descarte passa a ser o início de uma nova cadeia produtiva”.

Humberto comentou que um membro do Ibá participou de um treinamento ministrado no LAPEM e sugeriu sua participação. A professora orientadora Cassia Carneiro encorajou a escrita do projeto vendo que tem grande impacto para os produtores. “Levar o conhecimento aos pequenos e médios produtores me incentivou muito! Enxergar a necessidade e a carência de conhecimento na produção de carvão, e ser difusor da tecnologia, levando aos produtores o conhecimento gerado na universidade. Esse gargalo foi o que mais me incentivou a participar do prêmio […] seria bacana mudar a percepção das pessoas em relação ao carvão vegetal e mostrar que ele tem viés tecnológico e grande impacto na cadeia produtiva e setor industrial”.

Durante a conversa pedimos também para que ambos contassem como foi participar do prêmio.

“Foi muito bom e desafiador ao mesmo tempo!”, disse Humberto, animado. Ressaltou ainda a importância de ser claro e objetivo no resumo submetido, e de aprender um novo idioma, visto que o texto deveria ser em inglês.

A mestranda do LCP destacou sua admiração pelos diferentes projetos participantes e pela inovação nas diversas áreas, além da oportunidade de mostrar o seu projeto para mais pessoas e empresas, permitindo uma visão mais ampla para as oportunidades e investimentos, lembrando que os resíduos fazem parte do processo. “Foi uma experiência muito interessante, muito boa! Infelizmente não pode ser presencial devido ao atual contexto”.

Perguntamos ainda, o que pretendem alcançar depois dessa conquista, e Humberto disse ter sido uma grande vitória ter ido tão longe com o carvão vegetal, foi um evento que abriu portas.

Explicou também que o continente africano é o maior produtor de carvão vegetal do mundo, e que seria uma grande oportunidade levar o projeto para lá. “O que almejo para os próximos anos com o projeto é torna-lo uma unidade operacional, para podermos levar aos produtores de carvão e até para outros países. A missão e visão do projeto é leva-lo para a África. Mas se conseguir difundir no Brasil para os produtores já estou muito feliz também”.

Já Bruna almeja que novas empresas e setores invistam em seu projeto, que foi prejudicado pela pandemia e, às vezes, pela falta de recursos. “Apresentar esse projeto pode atrair o interesse e trazer reconhecimento e maior oportunidade de continuidade. Ele está praticamente no início e tem grande potencial, não só na indústria de Celulose e Papel”.

A respeito do apoio no Departamento de Engenharia Florestal nesse período, Bruna sorriu e agradeceu imensamente a seu orientador Cláudio Mudadu e a coorientadora Angélica de Cassia Carneiro, que deram todo o suporte. “Sem o DEF era impossível ter o projeto, né? Todos os recursos foram graças ao apoio do departamento e dos professores”.

O doutorando do LAPEM informou que o DEF apoiou muito o desenvolvimento do projeto; nessa trajetória de 2 anos e meio teve mais de 8 estagiários. “DEF e SIF foram fundamentais na execução do experimento, disponibilizando recursos financeiros e infraestrutura, além de disponibilizar bolsas para os estagiários e melhorar as condições de trabalho”.

Sobre a percepção dos discentes acerca do prêmio, agora que o departamento foi tão bem representado por eles, Humberto mostrou entusiasmo ao pensar em mais projetos concorrendo. “Espero que seja um incentivo para que os alunos divulguem seu trabalho e seus estudos. A UFV é referência no desenvolvimento de estudos de impacto no setor florestal”.

Bruna espera que os estudantes se sintam mais atraídos pela Tecnologia da Madeira, principalmente pela área de Celulose. “Apresentar esse projeto que aconteceu dentro do laboratório acaba enriquecendo as informações do que é feito ali, que não é apenas produção de celulose. Esse projeto mesmo foi uma junção do Laboratório de Celulose e Papel com o LAPEM”.

Ao final da entrevista, Humberto mostrou sua gratidão à professora orientadora, peça fundamental no desenvolvimento do estudo, e destacou a importância da parceria com a AcelorMittal, com a qual pedirá a patente do sistema, gerando mais benefícios a UFV. Agradeceu em especial a Eder Cabral e Salvio Teixeira, e também aos estagiários do LAPEM que o ajudaram no desenvolvimento e execução do projeto.

Bruna agradeceu novamente a seus professores orientadores e ao Departamento de Engenharia Florestal, citando também o doutorando Caio Torres e a Universidade Federal de Viçosa, “sem eles nada disso teria sido possível, esse projeto jamais teria tido um alcance tão grande”.

O Departamento de Engenharia Florestal parabeniza mais uma vez pela conquista! Nos orgulhamos ao ver nossos estudantes indo cada vez mais longe.

 

Sophia Ribeiro


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